Um
dos bairros mais antigos da cidade.
Está
ligado diretamente ao surgimento da cidade.
O
seu processo de expansão e crescimento de forma mais expressiva está ligado à
construção das ferrovias Paulista e Mogiana, que foi um marco expansionista dos
séculos 19 e 20.
Isso
foi concomitante aos primórdios da industrialização do país, no qual Campinas
se destacava como a principal cidade do interior paulista.
Num
tempo em que a cidade era bem menor, era lá que ficava uma grande parte da
periferia, com seu conjunto de cortiços bem famosos, além de ser onde se
instalaram os primeiros cemitérios da cidade, bem como um leprosário.
Interessante:
a própria estruturação física da linha ferroviária separava a cidade em
praticamente dois mundos.
Esta
divisão era percebida também no aspecto social.
Conversando
com pessoas que já residiam na cidade há muito tempo, mais especificamente em
períodos que excedam a mais de meio século, havia um termo muito usado para se
indicar o local de residência:
“Você
mora de qual lado da estação?”.
O
próprio questionamento já assumia um caráter discriminadamente social.
Ao
longo do tempo, foram sendo erguidas casas no bairro, de moradores que vinham
de outras regiões do país e imigrantes, com destaque especial para os
italianos, portugueses, sírios e libaneses.
Aos
que já vinham do interior, muitos estavam abandonando o campo para viver na
cidade, deixando assim a vida rural e agrária.
Começa
então a crescer uma cidade que depois se destacaria no cenário nacional. É
também, evidentemente, neste período, um dos primeiros e pequenos ciclos de
êxodo rural no país.Com este crescimento, foi surgindo, assim então, o
bairro.
Estudando
com detalhes a história da cidade, constam nos autos da mesma, que a construção
de casas neste bairro foi por uma iniciativa maior da aristocracia local, que
eram os detentores dos poderes políticos e econômicos da época.Neste grupo,
destacavam-se alguns pequenos empresários emergentes, que começavam a montar
fábricas na cidade. Mas quem dominava, de maneira mais imponente, eram os
grandes cafeicultores, que tinham sua riqueza obtida do chamado Ouro
Verde.Estes aristocratas construíram as casas e, evidentemente, as vilas para
alugar as mesmas aos operários da construção ferroviária e suas famílias.
O
projeto imobiliário incluía casas com tamanhos variados para abrigar famílias
de tamanhos distintos.A arquitetura seguia uma tendência do que era popular
para a época. Em sua grande maioria, eram de somente um andar, mas havia
algumas maiores de dois andares: os sobradinhos.
Dentre
as vilas construídas, três merecem um destaque especial: a Manoel Dias, Manoel
Borges e Vila Riza.
As
Vilas Manoel Dias e Manoel Borges resistem ao tempo, e tem se discutido o
tombamento cultural desta área na cidade, bem como uma eventual revitalização
deste reduto; ao passo que a Vila Riza, já não existe mais.
Os
seus poucos vestígios e ruínas, quando no momento de sua total destruição,
deram espaços à construção do Terminal Ramos de Azevedo.Andando recentemente
pelas ruas da região, pude tirar algumas conclusões...
Numa
comparação histórica: se olharmos o bairro com um foco social, e de forma mais
generalista, creio que o bairro continue se mantendo, ao longo das décadas, com
uma mistura de famílias de classes sociais populares, misturada com a dos
emergentes.
Sobre
o trânsito…Este já se “modernizou”, tornando-se caótico nos horários de maior
fluxo de veículos.
Neste
aspecto, o sossego do passado dá lugar ao agito da vida contemporânea.
Destaque
especial para a Rua Sales de Oliveira, que é a mais conhecida do bairro. Esta,
no final do dia fica bem congestionada.
Nas
construções atuais, percebe-se uma mistura do antigo e do novo, sem muita
preocupação real, na prática, com o aspecto patrimonial.
É
possível ver nitidamente casas decadentes, que resistiram ao tempo, mas que aos
poucos vão sendo demolidas pela expansão imobiliária, com os conjuntos
residenciais. Conjuntos estes que são erguidos sem uma completa análise dos
seus impactos na região, como o reflexo imediato no trânsito, entre outros.
Saindo
um pouco do bairro, e pensando mais na cidade, creio que algo também não tenha
mudado.
A
separação da cidade em micro regiões e em classes sociais. Esse conceito está
enraizado, perceptivelmente, na essência da cidade, desde seu nascimento. Basta
estudar a formação urbana e facilmente se chegam a estas conclusões.
Campinas
não é uma cidade que integra suas classes sociais. Há grupos sociais vivendo em
mundos separados e completamente desintegrados:um enorme arquipélago urbano.
O
nascimento da linha ferroviária, que separou a cidade em dois mundos lá no
passado, foi tomando formas diferentes nas décadas seguintes, mas com a mesma
tendência e princípio de separação social.
Isso
pode ser percebido em décadas seguintes quando a cidade ultrapassou a Rodovia
Anhanguera, depois a dos Bandeirantes… Outro fato similar e também recente de
urbanização: a expansão da Santos Dumont.
Resumindo:
estes marcos serviram mais uma vez para separar a cidade e, lógico, as pessoas.
Diante
de tudo isso, acredito que seja muito complexo pensar, hoje em dia, em qualquer
tentativa de integração desta cidade que sempre foi, histórica e
essencialmente, desintegrada.
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