segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Andando pelo Centro

Chego de manhã no terminal de ônibus, depois de sair de casa bem cedo, enfrentar um bom tempo no ônibus. Inúmeras paradas para o sobe e desce de passageiros.
Finalmente, estou na região central de Campinas.
Neste novo dia que se inicia, olho pro relógio. É bem cedo.
No comércio, algumas portas começam a se abrir...
Nas padarias e lanchonetes, já abertas, um movimento considerável de pessoas tomando café ... uns meio apressados, outros mais sossegados, com condições de analisar o movimento das pessoas.
No cardápio, o que mais se consome: de bebida: café e pingado; para comer: pão na chapa e principalmente pão de queijo.
De todas das cidades que já conheci, nenhum lugar come tanto pão de queijo quanto aqui. Talvez pela praticidade para quem vende (dado a industrialização deste produto). E pelo preço para quem compra. Combinado, naturalmente, com o paladar... ele é disparado o produto mais consumido na cidade para quem toma café na rua.
Pelas manhãs, é muito comum se perceber nos apressados levando um pacotinho. Com um, dois, três...
O corre corre é para a maioria, mas nem todos estão neste ritmo frenético, estes vão as padarias como um ritual, com tempo para conversar com pessoas conhecidas, ler um jornal, conversar com os balconistas... Nestes casos, o café é um mero pretexto para a socialização.
No centro, posso citar com certeza vários pontos em que isso é perceptível.
Andando pelas ruas, vou notando o movimento das pessoas... As bancas de jornal, já abertas bem cedinho, sempre param os curiosos com as notícias do dia. A leitura é bem superficial, somente nas manchetes e nos curtos fragmentos que algumas matérias deixam. A relação entre os que param nas bancas e efetivamente compram um jornal é quase insignificante. Nos sinais, e, provavelmente, de olho neste perfil de leitores de manchetes ou de temas bem superficiais, jornaleiros distribuem jornais gratuitamente.
Acredito que em cidades maiores, haja até mais grupos atuando nesta linha, em que o faturamento dos grupos de comunicação está associado ao marketing feito nestes periódicos.
No trânsito, a correria e caos de sempre, com os motoboys sempre achando que a pressa é só deles, e a prioridade também. Colocam em risco a vida de todo mundo, sem nenhuma prudência.
Em pontos estratégicos das esquinas, sempre um amarelinho, à espera iminente de um vacilo dos condutores para aplicar suas multas, de caráter único e exclusivamente educacional... Pelo menos é o que dizem.
Na porta de empresas de recrutamento, um drama coletivo cada vez maior, filas e filas em busca de nova oportunidade. No CPAT então...
Na catedral, um movimento contínuo de entrada de pessoas... Muitas vão buscar forças do alto para a batalha diária da vida... outros, num ritual religioso e de fé vão para a missa matinal, outros para o terço e outros, simplesmente para adorar o Santíssimo e/ou venerar Nossa Senhora da Conceição.
Na 13 de maio, gente que já levantou bem mais cedo que eu, com seu comércio itinerante e livre na rua. A maioria, peruanos e bolivianos... um tanto que receosos para uma conversa mais detalhada, devido a suposta ilegalidade no país. O tempo de permanência destes ambulantes vai ao limite do permitido pela SETEC... Até os últimos instantes permitidos fica a esperança de vender para os apressados que passam pela rua.
De tudo isso, posso dizer, a vida começa bem corrida na cidade. E na maior parte dos casos, a pressa é perceptível.
É o medo de perder algo que está sendo segurado por um fio, é o eficiente transporte que mais uma vez atrasou e este atraso deva ser compensado com passos mais largos...
Com tanta pressa, não tem nem como ter espaço pra reflexão, é um ritmo frenético imposto pela vida, que simplesmente diz às pessoas bem cedo: "Levanta e vai".
As pessoas vão, e sabe se lá como vão.
Na conversa dos cafés, um tema genérico são os problemas cada vez maiores. É um pessimismo generalizado e crescente. A sensação negativa é facilmente notada, mas algo curioso vem de tudo isso.
E daí vem uma pergunta? Se tá tão difícil e adverso assim, por que as pessoas, na sua maioria, não param? Como este negativismo não paralisa?
Creio que o motivo seja uma esperança coletiva, muito supostamente até mesmo inconsciente, que muitas vezes não é nem mesmo verbalizada ou sentida pelas pessoas, mas com força suficiente para nos empurrar pra frente. Num momento em que já nem sequer temos noção se há energia e força. Num momento de total fadiga mental.
Uma energia mínima que nos faz lutar por mais um dia. 
Um impulso maior, da vida, capaz de não nos deixar que fiquemos parados, mesmo que as condições externas sejam adversas, hostis...
Cada um, dentro de suas experiências de vida, pode manifestar esse empurrão de várias formas.
É o impulso de Deus que nos move, que nos faz ter fé que algo de melhor possa acontecer, mesmo que nos arredores não haja nada dando sinais disso.

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