Falar
da Rua Barão de Jaguara é contar a história e essência de Campinas.
É
umas principais e mais antigas ruas da cidade.
Há
dois séculos, no período da monarquia, ela já teve outros dois nomes.
Já
se chamou Rua de Cima e também Rua da Direita.
Já
no início da República, exatamente no ano que começou a mesma, ela passou a ser
a Rua Barão de Jaguara e se manteve até hoje.
A
sua localização no centro da cidade foi algo que a fez estar envolvida com os
eventos principais que transcorreram na cidade.
Em
outras palavras, era onde as coisas mais importantes aconteciam passado.
Ela
já foi sede da Câmara Municipal, e foi o primeiro endereço campineiro a receber
energia elétrica.
Para
as pessoas que iam ao centro e chegavam das regiões de Jundiaí, São Paulo,
Sorocaba... Passar pela mesma era uma rota natural.
Sempre
muito movimentada, seja por carros de boi, cavalos, simples e/ou suntuosas
charretes no período mais antigo; seja por automóveis ao longo da história,
desde a era fordista até os dias atuais.
Descendo
a rua à partir do seu início, temos a Praça José Rodrigues, onde começa também
a Rua Proença, que vai para outro sentido da cidade.
Bem
ainda no começo, temos o Colégio Ave Maria, de educação religiosa e católica.
Na sua igreja, à parte do colégio, as pessoas podem visualizar uma imagem bem
bonita e protetora de Nossa Senhora das Graças, que fica voltada para a rua.
Agregado ao colégio há ainda irmãs de caridade vivendo no mesmo local. Elas são
responsáveis pelas atividades educacionais, religiosas e sociais.
Um
pouco mais adiante, temos a Casa de Santa Ana. Este prédio foi criado pela
Igreja na época do Vargas, década de 30, com a ideia de ser um abrigo para
meninas carentes. Naquela época, o prédio era conhecido como Associação do
Asilo Santa Ana, e ensinava diversos trabalhos domésticos às suas alunas,
como culinária, artesanato, corte e costura... Terminados os cursos, havia em
encaminhamento destas meninas para trabalharem em casas de família da cidade,
escolas, hospitais... Ao longo de sua história, aconteceram algumas mudanças,
no qual foi dado ênfase também a outros grupos específicos de pessoas
necessitadas e carentes, mas o local sempre manteve sua vocação, focada na
caridade, integração social e auxílio aos mais necessitados.
Descendo
um pouco mais a rua, chegamos ao primeiro largo a o qual esta rua faz parte:
Largo do Pará. Em conversas com as pessoas mais antigas, consta que neste local
nascia o Rio Tanquinho, e que até o final da década de 20, o nome desta praça
fazia jus ao nome do seu rio. Era o Largo do Tanquinho. Este rio ia descendo
nesta rua, passando pela Dr. Quirino (Rua do meio), Luzitana (Rua de Baixo), Avenida
Anchieta (...), para depois, muito mais adiante, desaguar no Rio Anhumas. Hoje isso
não é percebido pelos moradores, pois ele foi coberto e canalizado em parte do
seu curso inicial.
Seguindo
a rua após o cruzamento com a Avenida Moraes Sales, há um local muito
interessante para se conhecer: Galeria Barão Velha. Neste local, recentemente
reformado, podem ser vistos os primeiros conceitos e tendências comerciais de
agrupamento de lojas na cidade. Atualmente, numa escala bem maior, conhecemos
isso como shopping, mall... Os mais saudosistas, certamente, têm incontáveis
histórias a respeito deste local, pois era um ponto de encontro de muita gente.
No local, já existiu até um cinema, hoje desativado. Trata-se do Cine
Paradiso. Havia também um atrativo a mais neste local, que era a orquestra de
moças. As mesmas eram regidas por uma violinista francesa, que segundo consta,
era de muito renome e famosa, o que aumentava ainda mais o movimento. Esta
admiração por algumas das moças da orquestra já rendeu até casamento. Hoje,
este local está em pleno funcionamento, com lojas de vários segmentos.
Na
esquina com a Ferreira Penteado, havia a Farmácia Merz, com fundação datada de
1910. Algo interessante na sua fachada é uma serpente, que é o símbolo muito
conhecido aos profissionais da área da Saúde. Segundo fontes levantadas, seria
um Esculápio, com figuras humanas e leões.
Seguindo
a ordem natural de descida da rua, temos o Mercado Campineiro. Este merece uma
crônica exclusiva, para que se possa detalhar uma infinidade de comércios
interessantes que estão no mesmo. É um excelente local para se frequentar.
Muito
próximo ao mercado, temos a Galeria Trabulsi, também ligada com este conceito
de agrupamento de lojas diversas. Lembro que o elevador da mesma foi, até muito
recentemente, no estilo à moda antiga, no qual a porta ainda era de grades
sanfonadas, ao invés da porta automática. Tinha ainda um ascensorista - algo
cada vez mais raro - para conduzir as pessoas aos diversos andares deste
prédio. Nesta Galeria há uma passagem direta para a rua Dr. Quirino. Esta via
tem muita circulação de pessoas na hora do almoço.
Passando
a Rua Conceição, havia a Continental. Esta era conhecida também como Caderneta
de P oupança. Nesta época, se podia tranquilamente sair deste local com dinheiro
no bolso. Neste trecho da rua há hoje algumas livrarias no entorno,
que recebem bastantes leitores de livros que queiram comprar, presentear ou
simplesmente folhear novos livros para ver as tendências e lançamentos do
mercado literário.
Na
esquina com a César Bierrembach, temos o primeiro arranha céu da cidade, com
sete andares. Hoje funciona no local um Hotel, que foi recentemente
reformado e está em plena atividade, bem como um cartório de registro civil.
Chegamos
ao Largo do Rosário. É aí que os protestos, passeatas, comícios, apresentações
populares e outros foram e são realizados. É simplesmente o coração da cidade.
Nesta
região, começa a crescer o reduto da bohemia, que passou por várias modalidades
e segmentos at&eacut e; os dias atuais, com uma lista de bares, cafés e
restaurantes que existiram e vigoraram durante um bom tempo, e em
períodos/décadas bem distintos. Uns já se foram, outros ainda funcionam e novos
virão. Aliás, assim como a vida, à noite e a bohemia têm os seus ciclos.
Aos
pontos extintos, destaque para o Bar Cristofani. Este, em especial, é muito
mencionado nas crônicas de Campinas. Na linha dos extintos, havia também o Taco
de Ouro, reduto dos sinuqueiros e jogadores que viravam a noite com suas
apostas, seus vícios. Nos casos mais extremos, consta que, mediante as apostas,
muitos voltavam ricos para casa, assim como outros perdiam tudo e entregam até
a família. Os relatos deste local são mais recentes, à partir do final da
década de 50. Ainda extinto e contemporâneo a este, havia o Café do Povo, ponto
de muita conversa regada a café, numa época intermediária entre o final da era
Vargas e o período do governo Figueiredo.
Para
os pontos ainda em pleno funcionamento, destaque nesta região para o
Restaurante Éden Bar com o famoso Bife à Parmegiana. Uma boa pedida no almoço.
Além disso, temos o famoso Café Regina, que leva este nome devido ao prédio no
qual o mesmo está localizado. Este funciona desde 1952, conforme sua própria
fachada anuncia.
Ele
passou por várias reformas ao longo da história, e se moderniza a cada uma
delas. É o mais popular da cidade.
Este
ponto do café, juntamente com a Padaria Orly, que fica em frente ao mesmo, já
foram decisórios nos rumos políticos da cidade ao longo de várias gerações, uma
vez que eram os locais de encontros dos vários políticos influentes da cidade.
Regado a uma xícara de café coado na hora, muitas articulações políticas eram
feitas e discutidas neste circuito. Além disso, outros grupos, não somente de
políticos iam.
Numa
época em que não havia internet e celular, esta região era um local em que
grupos de áreas profissionais distintas se encontravam para discutir assuntos
diversos como cultura, filosofia, história... E hoje, mesmo com tanta
tecnologia se mantem este ritual, com algumas particularidades. É o serviço de
encontro natural que os cafés proporcionam em qualquer cidade. Porém, devido
uma série de outros fatores, dentre eles destaque especial para a concorrência
com novos cafés e padarias da cidade, este movimento de pessoas é feito também
em outros pontos da cidade. Isso seria uma diferença para os tempos passados,
em que as opções da cidade se concentravam quase que especificamente neste
meio.
Chegamos
ao Largo do Carmo, que leva este nome em função da Igreja de Nossa Senhora do
Carmo que fica também no local. É uma praça que já passou por praticamente
todos os ciclos importantes da história da cidade. Funciona nela uma feira de
artesanatos e variedades durante as quintas e sextas feiras. Nela está também o
Jóquei Clube, onde se pode apostar em corridas de cavalos. Ir neste local é
voltar no tempo.
Terminando
o percurso, chegamos ao final, na esquina com a Barreto Leme.
A
rua acaba aqui, mas a história não. Ela é contínua e viva.
Ao
longo deste texto, alguns pontos foram citados, outros esquecidos, outros ainda
omitidos. Novos pontos surgirão, outros serão fechados, o que é algo natural em
qualquer cidade. Mas apesar de todas as mudanças e de muito tempo que já se
passou , desde o seu primeiro nome (Rua de Cima) até os dias atuais, acredito
que ela ainda represente muito da essência desta cidade. Preservar os pontos
que restam desta rua é algo importante. É conservar uma enciclopédia viva de
Campinas.
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